terça-feira, 2 de março de 2010

O INÍCIO DO FIM DA MONARQUIA EM PORTUGAL

PARTE I - A FUGA DE D JOÃO VI


Foi com este Rei, D João VI e com a I Invasão Napoleónica que começou o que viria a ser o fim da monarquia.

Napoleão, em Novembro de 1799 chega ao poder em França e com essa ascensão, começam-se a agudizar as tensões entre a França e a Inglaterra pela luta da hegemonia do poder mundial.

Em Portugal, reinava Maria I e a posição do Reino era interesseiramente neutra, com o intuito de ao ter relações com os dois países poder escoar as matérias primas provindas das províncias ultramarinas encontrando como clientes os dois gigantes, ao mesmo tempo que a frágil nação evitava um confronto armado para o qual não teria hipotese de sobreviver.

No entanto, Napoleão desejava impôr o seu domínio na Europa, pela força se necessário, e tendo como aliada a Espanha, a qual já estava em guerra com a Inglaterra, forçou esta a invadir Portugal de forma a fechar os portos marítimos à entrada dos Ingleses, rompendo a aliança de 1373, tentando com isso isolar as Ilhas Britânicas forçando-as a capitular.

Em Maio de 1801, a Espanha, com o apoio das tropas de Napoleão invadiu Olivença, conquistando essa praça marcando assim o início da Guerra das Laranjas e em pouco menos de um mês tomou o Alentejo.

A Guerra das Laranjas expandiu-se para a América do Sul, onde se encontravam domínios coloniais de Portugueses e Espanhois e os confrontos começaram com pequenas invasões mútuas.

Como em Portugal continental a desvantagem era nítida, Portugal capitulou já D João VI era Príncepe Regente devido à loucura da sua mãe e assinou o Tratado de Badajoz no qual fechou os Portos a Inglaterra e entregou Olivença a Espanha a troco de paz entre os Reinos, esse acordo foi possível pela clara noção que Portugal e Espanha tinham de serem "joguetes" nas mãos de Inglaterra e França numa luta pelo poder. No entanto o tratado não satisfez inteiramente a vontade de Napoleão que pretendia ver o país punido exemplarmente, lançando assim as raizes da Guerra Peninsular e das invasões Francesas.

Em 19 de Novembro de 1807, dá-se a primeira e a maior invasão Napoleónica contra Portugal, com Junot à cabeça, um general ambicioso que tinha pretensões de assumir o cargo de chefe de Estado do país conquistado; Napoleão queria na Realidade bloquear a Europa da Inglaterra por mar mas Junot tinha muito a ganhar com a invasão visto ser a melhor forma de conquistar prestígio, poder e riqueza.

D João VI, aconselhado pelos Ingleses e de forma a garantir a independência do Império, foge por mar para o Brasil sob escolta Inglesa a 27 de Novembro de 1807 com toda a família Real e cerca de 15.000 quadros superiores e administrativos do Reino, a sua intenção sería não deixar caír em mãos Francesas a coroa de Portugal, deslocalizando a capital do Império para o Rio de Janeiro e administrando Portugal a partir daí. O objectivo dos Ingleses era o mesmo, os princípios que conduziram os dois foi perverso; com a partida, D João deixou Portugal entregue a si próprio, sem quadros superiores nem altas patentes do Exército; deixou para trás um Portugal rural e pobre, administrado pela nobreza média, sem burguesia pois o país não era próspero e as benesses do comércio eram para a coroa e principalmente para os Igleses que estavam preocupados apenas em não deixar caír o antigo tratado entre as duas pátrias que lhes assegurava a exploração comercial de Portugal.

Pela fuga e consequente abandono da pátria à sua sorte nas invasões do temível Bonaparte ficou D João conhecido pelo epíteto de "O Ominoso".

8 comentários:

  1. Boa tarde caro Nuno!
    Vamos ao nosso debate?

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  2. Então:
    O meu Amigo começa por referir a «fuga de D. João VI para o Brasil» (como causa do princípio do fim da Monarquia em Portugal). Hoje comentarei apenas a dita «fuga».

    A questão, como deve calcular, não começou em 1807. Foi muito antes.
    Já desde 1792, face à ameaça que a França republicana significava, que o então Príncipe D. João (a caminho de ser Regente) pugnava abertamente por uma aliança envolvendo Portugal, Inglaterra e Espanha. Foi bem sucedido - então - neste seu objectivo. E um custo: a participação (juntamente com os espanhois) na campanha do Rossilhão onde as tropas portuguesas se bateram bravamente, mas com uitas perdas.
    Napoleão não esqueceu mais os portugueses. Até por causa da nossa aliança com a grande rival Inglaterra.
    A partir de 1798, tornou-se imensa a pressão francesa para pôrmos fim a essa aliança, alinhando numa politica continental encabeçada por Napoleão.

    Para este era manifesto que se queria vencer a Inglaterra, numa guerra que todos sabiam já inevitável, tinha de subjugar os portugueses.
    Portugal tornou-se para o «Corso» uma obstinação. Em carta ao seu ministro Talleyrand, escreveu «É preciso que a República tire aos Ingleses o único aliado que lhes resta no Continente»...
    Só um cego não via a Invasão a ser preparada já. E. 1801 Portugal recebe um ultimato franco-espanhol: ponto final na aliãnça com ingleses, portos de mar fechados aos seus navios.
    O ultimato não foi acatado e os espanhois invadiram Portugal pelo Alentejo. Houve resistência heroica em algumas praças mas a «Guerra das Laranjas» foi breve. No sequente acordo de paz, ficou determinado o fecho dos portos aos ingleses e a perda de Olivença. A finalidade deste tratado era, manifestamente, apagar Portugal
    (Quanto a Olivença, deve frisar-se que D. João reclamou a sua restituição entre 1808-14. Existiu ainda um compromiso de entrega pela espanha, que consta das actas do Congresso de Viena, em 1817. Mas essa entrega nunca se efectivou e a espanha foi sempre invocando a sua posse histórica, cada vez mais robustecida pelo passar dos anos - até aos nossos dias...).

    Napoleão foi coroado Imperador em 1804. De imediato se coligaram contra ele - a Rússia, a Prússia, o Império Austriaco e a Inglaterra. Todos sabemos como Napoleão os foi derrotando e invadindo (à excepção de Inglaterra) até se perder na imensidão da Rússia. Em todo este envolvimento, a política diplomática de D. João (VI) foi «um prodígio de habilidade» (Veríssimo Serrão) pela forma como foi conseguindo manter a neutralidade. Entre 1801 e 1807, sem prejuízo e com paz para os portugueses.

    Portugal não podia viver sem o comércio inglês. Mas sobreveio o Bloqueio Continental, acentuaram-se muitíssimo as pressões, tornou-se impossivel manter a neutralidade.. Napoleão ordeou a Junot que organizasse um grande exército para nos invadir. Compunha-se ele de 28.000 franceses e 27.000 espanhois que deveriam entrar em território nacional por diversos pontos. «O Imperador queria acabar com os Braganças e assenhorar-se de Portugal» (V. Serrão). A solução de emergência, face a este propósito, seria transferir a Corte para o Brasil. Solução, aliás, já anteriormente pensada, no tempo do Prior do Crato, e depois pelo P. António Vieira e mesmo por Pombal, na sequência do terramoto de 1755. Agora o importante é que a invasão do Reino significaria a extinção do trono português.
    (cont.)

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  3. (cont).

    E, nesse sentido, espanhois e franceses celebraram o Tratado de Fontenebleau (1807) pelo qual dividiam e partilhavam Portugal no reino da Lusitânia Setentrional (Minho) para o Rei da Etrúria, Principado dos Algarves (Alentejo e Algarve), para Manuel Godoy, «podendo» a Casa de Bragança ficar com Trás-os-Montes, Beiras e Estremadura, mas sob protectorado de Espanha.
    A sugestão da ida para o Brasil partiu do Ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Visando salvar o Reino, porque uma ocupação militar não era bastante para acabar com a soberania nacional.
    Para Junot, «não poder destituir o Príncipe para entregar a coroa portuguesa ao Imperador o foi o seu 1º fracasso» (Veríssimo Serrão). A partida para o Brasil «não se tratou de uma fuga», mas de uma «decisão politica do maior alcance porque salvou a realeza em Portugal» (idem).

    Muito realisticamente: Portugal invadido por 55.000 homens que hipótese tinha? O que seria diferente se a família Real tivesse ficado? Nada, a não ser a humilhação ou o extermínio que sofreria. Já com a usurpação espanhola assim tinha sido, e 1640 só foi possivel depois de se escolher a nova Dinastia (de Bragança).
    D. João VI partiu para o Brasil recomendando que não fossem hostilizados os franceses. Havia que esperar e Ele sabia-o. Arevolta nacional foi precedida pela dos espanhois.

    Os franceses nunca entraram (derrotados navalmente por Nelson) em Inglaterra. Se tivessem entrado, o que faria o rei inglês? O que fez o Czar e todos os russos, senão fugir, na vastidão daquele país, à frente dos franceses, tudo queimando para nãolhes deixar meios de subsistência e esperando a vinda do General Inverno? Por que vexames não passaram italianos, austriacos e germânicos?

    Sem querer antecipar o fim da «história», adianto apenas que a Europa se livrou de Napoleão a partir da P. Ibérica e da Russsia, sempre com o auxilio militar da Inglaterra. Tudo países em que Bonaparte não deitou a garra aos soberanos (reis).

    Fico-me por aqui. Apenas uma pequena correcção ao seu texto: o cognome de D. João VI foi «O Clemente»...

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  4. Ora então por partes.

    Quanto aos propósitos de Ingleses e Franceses estamos de acordo, Portugal e Espanha eram peões e a Guerra do Rossilhão foi um aproveitamento dos Ingleses para apanhar uma França desprevenida em plena revolução Francesa com o Robspierre à cabeça.

    Quanto à segunda parte, deixe que lhe diga que o pormenor do "Corso" é delicioso, mas o homem é Corso agora, há época era a França encarnada, faz lembrar Hitler o "Austríaco" e os "cossacos" Russos, a história tem sempre uma forma engraçada de arranjar uma lógica para as coisas, quando corre mal é o Corso !
    Realmente tenho presente a ideia que Portugal foi sempre um meio para atingir o fim de fazer capitular a Inglaterra, na primeira guerra foi a mesma coisa, Portugal vale e valeu sempre pelo posicionamento geográfico que tem.
    O rompimento da aliança com os Ingleses foi como o meu amigo bem sabe um embuste, a prova é que na hora da dita "fuga" os Ingleses, de contrato rasgado escoltaram a coroa Portuguesa e já no Rio tinham um embaixador como membro das cortes, poder-se há especular sobre o seu real poder sobre D João.
    Olivença é uma questão eterna, se não nos devolveram aquilo depois da Constituição de Cádis, não mais nos devolverão.

    Quanto à neutralidade faz-me lembrar a neutralidade de Salazar na 2ª Grande Guerra, é realmente uma inevitabilidade a repetição da história.
    Hitler invadiu a Rússia na operação Barbarossa e ficou sem recursos para o resto, Napoleão igual, a diferença é que os Espanhóis em 1807 tiveram o apoio de Napoleão para entrar em Portugal, Franco não teve a mesma sorte com a Operação Pelicano.

    Sejamos claros, eu compreendo a lógica da "fuga" e o "embuste" do falso rompimento da aliança, no entanto deixo claros dois erros do Rei fundamentais (neste episódio, temos mais 3 acima e já estou a trabalhar no vintismo)

    1º : O país miserável que era Portugal, fechado ao mundo, rural e pouco educado, presa fácil para Napoleão, o Rei nunca se preocupou muito.

    2º : Os poucos que sabiam gerir o país partiram, patentes militares incluídas, o Rei com isto presente obviamente que deu instruções para não resistir, seria a chacina total.

    Sem Exército nem quadros administrativos, Portugal acabou, o povo é que não deixou... (cont.)

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  5. Só agora é que vi a 2ª parte.

    Não há muito a acrescentar.

    O epíteto de "O Ominosos" surgiu-me num livro da Maria João Bonifácio "A Monarquia Constitucional 1807-1910", já agora, utilizei também o "Ir Pró Maneta" e o "Ensaios de História e Política" ambos do Pulido Valente, além da internet que é sempre útil com datas e nomes.

    Só como nota, o que me choca nesta 1ª fase da história foi o abandono a que foi votado o Povo, nada justifica entregar 3.000.000 de miseráveis à sua sorte. Não basta dar a ordem de não atacar os Franceses para evitar uma chacina, obrigar o Povo a obedecer a um inimigo Jacobino e ateu tornou a revolta numa inevitabilidade.

    O Rei tinha por obrigação assegurar que o império seria gerido, compreendo que deslocalizar a capital para o Brasil tenha sido uma necessidade e concordo que lutar era inútil, não concordo é que depauperasse o Reino dos seus quadros entregando o povo à revolta. O Povo deu uma grande lição ao Rei, mas isso é tema dos capítulos acima, este capítulo até retrata a mais inofensiva das acções do Rei.

    Outra nota, acho que estamos a dar valor a mais a D João neste episódio. Na minha opinião as decisões foram sempre tomadas em Inglaterra, Inglaterra mandava mais em Portugal que mandavam as cortes e o Rei, penso que mais acima se chega a essa conclusão mas o meu amigo tem sempre alguma na manga...

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  6. Caro Nuno:
    A esta hora tardia, rebato as suas noras muito sucintamente:
    1. A causa de toda a desgraça foi a vontade expansionista de Bonaparte. Não a Inglaterra, nem nós, que continuariamos a negociar calmamente, como já era «hábito» enraizado. Ou seja: nada sucederia não fosse a vontade francesa de dominar o mundo.
    2. A neutralidade é remédio santo. Foi mesmo o melhor de salazar (2ª GG). Obra que D. João VI conseguiu durante largos anos. Até à exaustão...
    3. País miserável? se calhar eramos. Não por causa de D. João VI. Por causa de quê? Quanto amim dos chmados «Descobrimentos». Quisemos dar um passo maior do que a perna. Depois sofremos as sequelas. Faz lembrar o Boavista: campeão nacional em 2000/01 e, a partir daí, sempre em declinio até onde está hoje...
    4. Não é verdade que os quadros administrativos tenham ido todos para o Brasil. Como demonstra isso? Ficou cá muito boa gente. O problema era estritamente militar. Não tinhamos oficiais à altura nem contigentes e armamento para obstar à invasão. Como, de resto, toda a Europa.
    5. O azar dos portugueses foi a invasão dos franceses, não a partida do Rei, em si mesmo. Se este ficasse, tudo seria igual. Seria até pior: justamente porque perdiamos a soberania, a representação fisica do estado independente.

    Amanhã (hoje) prosseguimos.

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  7. Amigo Ega, muito sucintamente e com o maior apreço pela sua sempre infinita sabedoria :

    1. 100% de acordo
    2. 75% de acordo, a neutralidade depende sempre da vontade de terceiros, adiar um problema não o resolve, mas concordo que não houvesse muito a fazer...
    3. 50% de acordo, a sociedade Portuguesa era fechada à Europa, quando as ideias Liberais começaram a explodir ficamos nós na mesma, como no tempo do Salazar, o povo não ia à escola e trabalhava no campo, a política era privilégio da "superclasse" e as Cortes eram puramente uma "pro-forma". Quando foram necessários quadros não haviam, restou Junot o bruto e mais tarde os Ingleses (ver capítulos acima) o povo teve de se reinventar a ele próprio e à sua própria custa.
    4. 0% de acordo (em algum ponto havíamos de estar) leia o Pulido Valente, o Rei partiu com todos os príncipes de sangue mais os altos quadros da nação, restaram alguns juízes, notários e militares (poucos) o grosso da revolta popular foi feito pelo povo incitado pelo Clero médio; a prova foi que quando acabaram as invasões só tínhamos os Ingleses para mandar, mais nada. Os próprios Ingleses tiveram que refazer o Exército e a administração. Beresford aliás era Regente do Reino, o Rei estava longe... e não regressava por muito que lho pedisse o povo (capítulos acima).
    5. 90% de acordo. Concordo que o Rei não tivesse muita escolha, aliás, como já lhe referi acho que até não teve nenhuma, foi decisão dos Ingleses, a verdadeira coroa Portuguesa à altura !
    O maior mal não foi a partida do Rei, mas sim o seu não regresso (ver capítulos acima e já estou a trabalhar na guerra civil).
    Quando acabaram as invasões que fazia o Rei no Brasil ? Porque diabo criou ele o Reino do Brasil a 1815 ? No fim só lucravam os Ingleses com o monopólio do comércio internacional pois as mercadorias deixaram de passar por Portugal, mesmo após as invasões !
    Com a agravante da "ajuda" deles ter custado uma fortuna ao Reino pois não foi dada mas sim emprestada !
    É por isso que digo que Portugal era um Reino ou colónia Inglesa !

    Um grande abraço.

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