terça-feira, 2 de março de 2010

O INÍCIO DO FIM DA MONARQUIA EM PORTUGAL

PARTE II - A PRIMEIRA INVASÃO FRANCESA : A GUERRA DO POVO


Ao fugir, D. João VI deixou instruções para que os Franceses fossem obedecidos e bem recebidos, as instruções foram cumpridas e Junot entrou sem obstáculos por Portugal adentro.

Entrou pela fronteira a dentro um exército constituído por Espanhóis, com um grande contingente Francês, marcharam até Lisboa e foi banida por Napoleão a Casa De Bragança do trono de Portugal.

Os quadros médios administrativos, sem Rei nem roque, entregues à sua sorte, rapidamente se tornaram "colaboracionistas" ou como lhes viria a chamar o povo revoltoso "afrancesados" e "jacobinos". Durante 6 meses foi pacífica a coexistência entre o ocupante e os submissos ocupados.

No entanto e aproveitando o regresso das tropas Espanholas ao seu país para auxiliarem na luta contra as revoltas anti-Francesas que por aí se processavam o Povo revoltou-se em 1808 contra os "afrancesados", "jacobinos" e "ateus" Franceses. A revolta foi espontânea e cruel, principalmente incitada pelo Clero, única força de bloqueio instruída verdadeiramente existente em Portugal pois praticamente não havia Burguesia ou classe média e rapidamente se tornou numa revolta contra os ricos, juízes, notários e proprietários com acusações de colaboracionismo. Sem um poder central que pusesse cobro a isso, e sem reconhecer autoridade a um invasor jacobino foi a anarquia total. Não havia um centro de poder nem um exército organizado, as cidades revoltosas eram focos de conflito isolados e independentes que se incendiavam de forma espontânea contra o inimigo numa forma pura de guerrilha armados com utensílios agrícolas.

Os Franceses combateram a guerrilha com as suas tropas regulares e organizadas, a estrela da contra-ofensiva foi Loison enviado para retomar o norte do país onde a revolta tinha estalado.

Sem ter a noção de quem era "amigo" ou "inimigo" em virtude da natureza do conflito de guerrilha massacrou tudo que tivesse aparência "suspeita" com requintes de malvadez.

Devido ao facto de ter perdido uma mão num acidente de caça, Loison era conhecido como "O Maneta" tornando famosa a expressão popular "Ir pró Maneta", de facto naquele tempo, quem caísse na mão de Loison iría certamente "pró Maneta".

Loison na realidade era um cobarde, foi derrotado pelas milícias do Povo e dos Padres em Amarante perdendo muitos homens e tendo de retirar. No caminho da sua retirada até Almeida, vingou-se nos agricultores pobres que encontrava, torturando-os e aniquilando-os queimando cearas e matando homens, mulheres, velhos e crianças.

O próprio escreveu "O massacre foi terrível, a desordem geral; tudo o que pôde escapar, fugiu e despersou-se, mais de mil mortos ficaram no campo de batalha."

Estas aldeias massacradas eram marcadas nos boletins do Exército Francês como "Livrée Aux Flames".

3 comentários:

  1. Caro Nuno: se estiver de acordo, podemos já subir para este patamar. Ora:
    - Parece-me dsde logo importante deizar bem claro que não se contesan os sacfificios sofridos pelo povo e as atrocidade cometidas pelos franceses, Loison à cabeça.
    - Foi assim também em toda a restante Europa ocupada.
    - Junot, em Lisboa, bem pode ter proclamado o banimento da casa de Bragança. Falava sozinho. A Coroa estava nun ponto inalcançável do Império.(Sem esquecer todas as diferenças ditadas pelo tempo, pensemos na França invadida por Hitler. Petain submteu-se, De aulle retirou para Inglaterra, onde nunca deixou de se proclamar Presidente da «França Livre». E isso era um verdadeiro estímulo para os resistentes franceses).
    - Como sabe, por outro lado, havia já em Portugal um forte partido pró-francês (jacobino, aberto às «ideias novas» da revolução) que o Intendente P. Manique combatia profícuamente. Esses, acinselhavam D. João a ficar e submeter-se a Junot. Felizmente venceu o partido pró-inglês: D. João partiu para o Brasil.
    - Mas foram esses «afrancesados» que abriram os braços a Junot e colaboraram. O maçon Gomes Freire de Andrade partiu à frente de 20.000 portugueses (!) integrado nos exércitos franceses e combatendo Europa fora até à Russia. Era a Legião Portuguesa.
    - Ainda: não interessará tanto, para raçarmos o perfil de D. João VI sabermos se os ingleses eram nossos aliados de boa-fé ou por puro interesse. Eram. E nós, comercialmente não podiamos passar sem eles.

    (cont).

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  2. (cont.)
    - Para si, e para mim, o Ir Pró Maneta de VPV é uma obra de referência. Mas repare: não vê lá qualquer alusão depreciativa a D. João VI. A análise de VPV incide sobre quem deu inicio à revolta: o povo, a nobreza rural ou o clero? A burguesia, sempre cautelosa, VPV exclui-a logo.
    - E faz este reparo logo no início: enquanto os espanhois não iam além da guerrilha, para os portugueses tratava-se de uma «verdadeira reconquista». O que se passou então?
    - A revlta nacional começou em JUN/1808. Antes, em Maio houve uma insurreição em Madrid contra os franceses, depois derrotados em Sevilha. Segue-se levantamento patriótico em toda a Espanha. Circinstância decisiva! porque as tropas espanholas em Portugal têm de regressar ao seu País. Os portuguesess podem finalmete revoltar-se. E fazem-no, neu caro Nuno, - aclamando SAR O PRINCÍPE REGENTE D. João. A bandeira da Casa de Bragança é içada por todo lado. Quer-se o «Desejado»! Reveja, sff, VPV.
    Finalmente, por hoje: os ingleses desebarcam na Costa de Lavos (F. Foz) em AGO/1808. Tudo será diferente a partir daí. Acabaram as «manetices».

    Até amanhã, caro Nuno!

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  3. Penso que estamos de acordo com praticamente tudo, ainda não chegamos à parte mais sensível mas lá chegaremos.

    Algumas notas. Acabei o "ir pró maneta" mesmo há poucos dias, tenho-o mesmo à minha frente enquanto lhe escrevo, lamento se o induzi em erro mas não foi o Pulido Valente que me fez pensar que D João era bom ou mau, aliás, o livro singe-se à análise das revoltas populares durante a 1ª invasão, aliás só a partir da pag. 100 é que o autor começa a falar em Soult e o livro acaba na pag. 109 !

    Pulido Valente expõe na obra algo de mais grandioso, foi o povo que sozinho derrubou Junot, e com isso ganhou uma legitimidade que não tinha outrora, de 1808 para a frente, não mais o Rei podia ser absoluto como até então, é aí que eu vou buscar a ideia do "princípio do fim". Se o Rei ao partir tem deixado uma resistência organizada, o Rei nunca perderia a sua legitimidade e regressaria quando a revolta acabasse preservando assim a coroa, o problema é que não só o Rei deu instruções claras para "colaborar" como no fim da Invasão só voltou obrigado, senão perdia Portugal, mais isso é mais acima caro amigo.

    Já que falamos no livro lá também vem escrito que não foi só o Freire de Andrade que era jacobino, os magistrados e a pequena burguesia também se "ajacobinaram" por não terem outro remédio, aliás, quando a revolta popular mudou o sentido à história os mesmos tentaram-se passar para o lado do povo, Freire de Andrade provou a ira do "novo Rei", Beresford, e pagou com a vida.

    Não há muito que debater aqui, o que eu não disse o meu amigo teve a gentileza de completar, amanhã há mais e a gentileza e afinco com que tem participado neste debate faz lembrar as "soirées" do João da Ega original, mas ainda o hei-de convencer a fazer um blogue, e os Maias serão o tema de abertura ! Hehehehehe.

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