segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

31 DE JANEIRO DE 1891



Passaram ontem 119 anos da data do golpe revolucionário republicano que opôs algumas centenas de revoltosos liderados por sargentos e cabos do exército às forças da coroa Portuguesa numa tentativa de instaurar a república em Portugal.

Há quem defenda que tal revolta se deveu em grande parte à questão do mapa cor de rosa e às pretensões da coroa de anexar os territórios situados na zona intermédia entre a costa do Atlântico e do Índico de Angola a Moçambique, as quais falharam redondamente resultando num ultimato por parte dos Ingleses a entregarem os territórios anexados sob pena de corte de relações e possivelmente conflito armado.

A meu ver a questão do ultimatum foi uma falsa questão, no fundo foi uma tentativa de empolar a rebelião transformando, à imagem do 25 de Abril de 74, uma revolta cuja verdadeira índole era uma questão de promoção na carreira dos quadros médios do exército, numa revolta nacional com o intuito de instaurar a república por motivos mais altruístas.

Na verdade, o Partido Republicano tinha a sua força em Lisboa, era aí que se sediavam a carbonária e a maçonaria e eram aí que nasciam todos os focos de revolta, aliás foi aí que se perpretou o reigicídio, a norte, a república nunca reuniu uma simpatia bastante para capitalizar um golpe com consequêncis tão drásticas e para mais na sequência de um ultimato Inglês, povo com que o norte de Portugal sempre manteve relações comerciais pela simples razão de que eram Ingleses a maioria dos interesses na produção e comercialização do vinho do Porto aliás Basílio Teles referíu-se ao Porto como uma "feitoria Inglesa".

Mesmo após a instauração da república, foi sempre a partir do norte que Paiva Couceiro investiu com o intuíto da restauração da monarquia, foi no Minho que se deu a revolta da Maria da Fonte com o rastilho das reformas de Costa Cabral numa população claramente miguelista e partidária do seu absolutismo.

Quais foram então as razões que levaram à revolta em 31 de Janeiro ?

O Porto como aliás é sabido, é liberal desde à muito tempo, na guerra civíl, o Porto resistiu sob a forma de cerco às tropas absolutistas de D Miguel lutando ao lado de D Pedro IV e a monarquia liberal que se vivía no fim do sec. XIX enquadrava-se perfeitamente no modo de vida da cidade.

O Porto desde sempre foi também um alvo apetecível para legitimar todas as pretenções de revolta em Portugal, aliás foi no Porto que se deram os maiores passos na luta contra a tirania em particular nesse tempo :

- Foi assim em 1820, para expulsar os ingleses e obrigar a corte a voltar do Brasil.
- Foi assim em 1826 para proclamar a Carta Constitucional.
- Foi assim 1833-4, quando se expulsou D. Miguel.
- Foi assim em 1836, quando se fez a revolução de Setembro.
- Foi assim em 1846, quando se deitou a terra o Cabralismo.

Participaram nesta revolta reza a história três oficiais speriores do exército, o capitão Leitão, o tenente Coelho e o alferes Malheiro, a revolta foi essencialmente perpretada por cabos e sargentos, aliás, desde 1911 que 31 de Janeiro é declarado o dia do sargento. Os motivos são os clássicos, melhores salários e melhores condiçoes na progressão das carreiras, os sargentos acreditavam que só pela via da revolução poderia ser terminada a monarquia, e com ela todos os previlégios que parecia que não eram extensíveis a todos os cidadãos portugueses de todas as classes.

Há que destacar alguns factos de grande importância histórica do 31 de Janeiro, foi a revolta do Porto que deu as cores da república à bandeira Portuguesa, o vermelho e o verde eram as cores do centro republicano federal do Porto, e foi com esse esquema cromático que a primeira bandeira republicana Portuguesa foi asteada na câmara municipal da cidade. Foi sob estas cores que no Porto morreram os primeiros combatentes pela causa e foi causa bastante para serem estas as cores adoptadas para figurarem na bandeira do país no pós 1910.

Foi também com o 31 de Janeiro que foi indicado o caminho a seguir pelos republicanos, com a revolta ficou patente que nunca pelo sufrágio ou pelo evolucionismo se poría fim à monarquia, foi com esta fractura que se ensaiou o caminho para o 5 de Outubro.

Foi também ao som da "Portuguesa" mas na sua versão original "contra os Bretões marchar, marchar" que as tropas revoltosas iniciaram a sua luta sendo daí que tenha partido a adopção da música que mais tarde se viria a tornar no hino da pátria.

Foi no final uma revolta útil que embora tenha iniciado como uma espécie de golpe sindical armado serviu de exemplo para fazer saír dos gabinetes para a rua os pensadores da república.

No meu ver, este caminho para o fim da monarquia só ficou manchado pelo reigicídio e pela brutalidade presente no acto; no fundo serviu para legitimar um movimento que se viría a revelar despótico e anarca às mãos de Afonso Costa por mais de vinte anos numa sucessão de governos, crises e golpes de estado, tendo como os seus episódios mais negros a entrada de Portugal na grande guerra e o assassinato de Sidónio Pais, culminando no Estado Novo de Oliveira Salazar.

2 comentários:

  1. Bom dia!

    Tomei conhecimento deste seu blog, através do futebolar que sigo tranquilamente, intervindo raramente com um ou outro artigo de opinião com o nick R.L.Zanetti. Felicito-o por esta iniciativa e se me permite acompanharei de vez em quando os seus posts. Caso deseje dar uma olhada no meu blog, ele é:
    www.apenas-ser.blogspot.com

    Relativamente a este post sobre o 31 de Janeiro, achei bastante interessante a sua perspectiva sobre o acontecimento e tendo a concordar com ela. A cidade do Porto sempre se assumiu como um núcleo duro da nacionalidade de Portugal, nunca se deixando derrotar.
    Não me considero republicano. Posso até ter uma costelazita monárquica (constitucional naturalmente), mas acima de tudo considero-me português, acima de qq ideologia ou sistema democrático...o meu último desejo é ver o meu país bem, seguro forte e próspero com as suas gentes orgulhosas e sempre aspirando a grandes coisas.
    Perdoe-me este desabafo patriótico, mas ultimamente a nossa alma lusa vem sofrendo desgostos atrás de desgostos.

    Um abraço para o amigo e felicitações para este seu novo projecto na "blogosfera".

    Rodrigo

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  2. Caro Rodrigo antes de mais agradeço a sua visita e será sempre bem vindo.

    A verdade é que a monarquia pode ser uma solução, confesso ainda que não me convence mas o corporativismo em que mergulharam os partidos dá que pensar.

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