sábado, 20 de fevereiro de 2010

PARA GRANDES MALES, GRANDES REMÉDIOS



Eu deixei de ser "sebastianista" já há muito tempo, desde o tempo em que assisti ao assassinato político de Fernando Nogueira deixei de acreditar que valia a pena lutar por aquilo que achava ser justo.

Lembro-me perfeitamente desse famoso congresso o XVII do PSD, uma luta a 3, Nogueira, Barroso e Santana, cada um ao seu estilo o primeiro pacificador, num momento crucial para o partido onde o espectro do guterrismo pairava; outro radical, com o apoio dos barões, sulista, elitista e liberal como lhe chamou Menezes e ainda "last but not least" o sempre presente Santana Lopes, com uma retórica fascinante mas muito caudilho para meu gosto, com um estilo claramente a fazer lembrar Paulo Portas um "one man show".

Nogueira ganhou e toda a gente conspirou e atacou, o homem foi derrotado por fora e por dentro e partiu, para nunca mais voltar, com ele parti eu, parti de uma coisa que genuinamente adorava e em que acreditava mas deixei de acreditar.

Sempre detestei o aparelho, os votos negociados, a contagem de espingardas; desde o tempo de Cavaco que esperei em vão por alguém que tivesse perfil para se impor aos "jobs for the boys" alguém que tocasse no coração dos militantes levando-os a mandar ao bardamerda (passo o termo) o cacique local que lhes indicava o sentido de voto, pagando-lhe religiosamente as cotas como contrapartida.

Sinceramente que esperava que o PSD pudesse, com a história que tem e sendo filho de Sá Carneiro, produzir um candidato que me enchesse de orgulho, tenho uma simpatia grande por Rui Rio, tive o prazer de fazer campanha ao seu lado há muito tempo, ainda era Rio um excluído do PSD, votado ao ostracismo pelos outros, condenado a ser uma sombra.

Quando a sorte finalmente sorriu a Rio e a Câmara do Porto se tornou o seu destino, vi nele um reformista, sem medo, foi injusta a forma como guerreou o FCP e há-de ser uma mancha no seu honorável percurso de líder mas a coragem com que enfrentou um dos homens mais poderosos e amados no norte despertou em mim uma grande admiração pela sua figura, fugiu ao caminho fácil e enfrentou uma cidade que muitos enfrentaram e caíram aos pés da sua muralha Fernandina.

Por incrível que pareça, ao enfrentar o Dragão com a sua tenacidade, Rui Rio ganhou a admiração da mítica criatura, sendo aos dias que correm um líder acarinhado por tantos que o têm por homem sério e corajoso sem mácula.

Lembro-me de o ver saír à rua rodeado por adeptos do meu porto irados e revoltados, a coragem dele foi tanta que ninguém lhe ousou tocar, revelou uma aura que vi em poucos líderes do partido, uma força que o torna especial.

Lembro-me também quando tentou a refiliação no PSD, quando tentou acabar com o pagamento colectivo de quotas e com a confirmação das moradas dos militantes, lembro-me que ao lado do Professor Marcelo tentou lutar uma guerra impossível que obviamente o derrotou e o tirou das cupulas que costituem a direcção do partido.

Lembro-me também que foi ele que limpou a cidade, que acabou com o bairro de S João de Deus e que decretou o fim do Aleixo; lembro-me que foi ele que conquistou o Parque da Cidade aos especuladores, era tão fácil ter aceite dinheiro... E bem mais lucrativo, mas Rio não conhece a palavra fácil !

Lembro-me que foi pioneiro na instituição de medidas anti-corrupção na Câmara Municipal do Porto, que acabou com as obras estranhas e que deu um rude golpe na especulação imobiliária na cidade.

É difícil não ver em Rio um D Sebastião, um homem raro, sem excentricidades e vaidades, tecnocrata, reformista, com sentido de responsabilidade, preocupado com quem vive na maior e mais degradante das misérias e rodeado de traficantes de droga.

Rui Rio seria de bom grado o meu candidato mas não é.

Escolheu a nossa cidade para ficar e decidiu respeitar quem em nele depositou toda a confiança; talvez um dia venha e cumpra o que dele se espera; alguém que sinta o país como sentiu a cidade, alguém que não se subjugou à direita ou à esquerda, alguém que humildemente se disponha a ser o que não temos há muitos anos, um verdadeiro Primeiro Ministro.

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